A intersecção da Biotecnologia com a Engenharia Química, em particular,
faz-se em todos os domínios e escalas. As ferramentas e metodologias usadas
pelos Engenheiros Químicos no desenvolvimento de processos químicos são
indispensáveis para a resolução de problemas associados às ciências da vida e
para a comercialização dos desenvolvimentos da biotecnologia. Com a introdução
de novas disciplinas curriculares e a investigação em microbiologia, bioquímica
e fisiologia os engenheiros químicos dispõem hoje das competências para
desenvolver soluções inovadoras e econômicas para problemas no domínio das
ciências da saúde e na implementação em escala comercial dos progressos no
domínio da biologia molecular. As próprias células vivas podem ser consideradas
individualmente como micro-fábricas de estrutura muito complexa, uma rede
complicada de inter-relações entre os diferentes componentes internos. Assim,
os engenheiros químicos, pelas suas competências no domínio das reações
químicas, termodinâmica, química-física de interfaces, monitorização e controlo
de processos, e operações de separação e purificação de biomoléculas, pela
aplicação dos princípios da modelação matemática e análise de sistemas ao
estudo da função e resposta de órgãos de um organismo, têm a capacidade de
conhecer os mecanismos de transporte de substâncias ao nível intra- e
inter-celular, sintetizar polímeros biocompatíveis, e projetar órgãos
artificiais, tecidos artificiais e próteses; têm igualmente sido os agentes
principais na concepção e desenvolvimento de processos para a produção de
compostos de estrutura molecular extremamente complexa e de agentes de
diagnóstico.
A biotecnologia industrial envolve
processos industriais para a produção de novos produtos, o tratamento de
efluentes, a produção de energia, etc. Os processos fermentativos modernos, que
exploram as atividades biológicas naturais de células microbianas e de enzimas,
são hoje usados para a produção de inúmeros produtos, muitos dos quais não
poderiam ser produzidos por quaisquer outras vias, como é caso de muitos
produtos farmacêuticos ou da química fina. A engenharia química é ativa e
imprescindível na produção em larga escala de agentes terapêuticos como
antigénios, interferons, hormonas de crescimento, linfoquinas, fatores
anti-hemofílicos, anticorpos monoclonais, vitaminas, vacinas, antibióticos,
entre outros.
Também na produção de novas formas de
energias renováveis (como o bio-etanol, o biodiesel ou o biogás), de moléculas
mais simples e importantes noutras indústrias (e.g., acetona, butanol,
glutamato, ácidos cítrico, láctico e glucónico, etc.), de novos materiais (por
exemplo, bio-polímeros funcionais com aplicações na indústria ou em medicina)
ou na depuração ambiental se recorre à cultivação em massa de microrganismos.
De entre os produtos das fermentações ressaltam o(a)s enzimas, que são
proteínas com poder catalítico. Estes biocatalisadores são utilizados depois em
inúmeras biotransformações e na síntese química tirando partido das suas
características próprias, em especial a sua estérea-especificidade. O exemplo
mais conhecido é o da glucose isomerase usada para converter a dextrose nos
xaropes de frutose, um edulcorante extensivamente usado pela indústrias
alimentar e farmacêutica. Um outro exemplo é o da termolisina, produzida por Bacillus
thermoproteolyticus, que catalisa a produção de aspartame, um outro
edulcorante também corrente.
É de realçar que o conhecimento e as
metodologias de extrapolação do conhecimento obtido nos laboratórios para a
escala comercial (scale-up) foram iniciadas e desenvolvidas pela
engenharia química para a produção de grandes quantidades de penicilina após a
segunda grande guerra mundial.
O desenvolvimento da bio-economia baseada no
conhecimento assenta cada vez mais na utilização de recursos
naturais renováveis e no desenvolvimento de novos processos e de novos
produtos, mais competitivos, mais ecos-eficientes e
mais sustentáveis, natural
e imprescindivelmente com o suporte dos engenheiros químicos.
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